quinta-feira, dezembro 09, 2010

O que deve, o que é, o que tem que ser, o que é preciso

Se me perguntarem "quando?", não sei dizer. E acho que também não interessa. Até porque não acredito num "quando" mas sim em vários, apesar de não os saber localizar no espaço e no tempo. Só sei que foram acontecendo, acontecendo, acontecendo. Pequenos passos, somatório deles até chegar hoje a um resultado, que sei que não é final, que quero que não seja final. A este irão somar-se outros porque o caminho continua e os passos também. E é assim que deve ser.

Ontem, as palavras que saíam da minha boca explicavam-me, explicavam-se. Falava também para mim, organizava ideias também para mim. Enquanto ignorávamos a chuva miúda e graúda, continuávamos ao longo do rio, sem pressas, sem tempo para voltar. Porque o passeio tinha que ter a duração do que faltava falar. Ou pelo menos, do que faltava falar ontem.

Falta-me a constante. E, pela primeira vez em muito tempo, essa é uma boa notícia. Porque a minha constante impregnava-se naquele ponto no peito, não me deixava respirar e acompanhava-me sempre, em tudo o que fazia, dizia, pensava, calava. Como música de fundo, banda sonora sempre igual em todas as cenas, fossem elas quais fossem. No início desesperava-me, toldava-me os movimentos, manifestando-se a uns decibéis bem acima do recomendado. Depois, aprendemos a conviver, a sua presença tornou-se mais discreta, menos ensurdecedora mas, mesmo assim, agri-doce. Sim, já me permitia andar mas, não, não era um andar leve, límpido, fresco e requeria esforço, e requeria preparação para navegar em altos e baixos. Havia uma espécie de concentração de humidade e negritude a envolver-me, a abafar-me, a pesar o ar, que eu combatia como podia, que eu tentava gerir de forma a não estancar. Mas que continuava a fazer-me encolher de joelhos ao queixo quando finalmente parava, e a fazer-me virar para dentro de mim, para o meu núcleo, deixando-me, nessa altura, descansar e absorver por tudo o que lá encontrava. Nesses momentos, ficávamos cara a cara, eu, a humidade e a negritude, e eu deixava que me tomassem. Porque elas estavam lá, existiam, por mais que olhasse para o lado, continuavam a estar lá e eu tinha que as aceitar e resolver.

E fui resolvendo, ao ponto de, no momento, nos encontrarmos apenas de vez em quando, apenas quando é útil, acho eu. Porque tenho que assumir a sua utilidade. Mas fui resolvendo e resolvidamente assumo-as úteis e ainda presentes. Mas só de vez em quando.

Vai mudar? Não sei. E agora também não me interessa.

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