terça-feira, julho 23, 2013

Nem sempre...

Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar, 
Seria mais feliz um momento. 

Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural 

Nem tudo é dias de sol, 
E a chuva, quando falta muito, pede-se. 
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade 
Naturalmente, como quem não estranha 
Que haja montanhas e planícies 
E que haja rochedos e erva 

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade, 
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda, 
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, 
E que o poente é belo e é bela a noite que fica... 
Assim é e assim seja. 

Alberto Caeiro 
in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI

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