segunda-feira, dezembro 09, 2013

Gritos em surdina

"Desde que findou, dois anos, quase três, nunca mais se falaram. De longe a longe ela envia-lhe um mail, "penso muito em nós", raramente variando a frase, um tom de grito em surdina, apelo à recordação. 
Nunca reage, uma única vez quase cedeu à vontade de lhe lembrar o aniversário de uma noite de paixão, mas conteve-se, cerrando os dentes e mentindo a si próprio com um "o que lá vai, lá vai", consciente do perigo que corre quando enfrenta a quimera da sua felicidade.
Mulher, filhos, família, obrigações, rituais, tudo se lhe assemelha vazio, desbotado, impossível de comparar à verdade do que sentiu e partilhou, do que teve e perdeu.
Dispensa a fantasia para imaginar a vida que o espera: olha em volta, chora sem lágrimas e, como ela, também grita em surdina."



Nota: porque há textos assim e blogs assim e autores assim que me fazem sorrir, chorar, deliciar, pensar, indagar, invejar, serenar, exaltar mas, acima de tudo, agradecer. Desde o dia em que os conheci - autor, blog e livros - tornei-me uma pessoa uma bocadinho mais completa...

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