De volta a um outro mundo, tão meu também, sou obrigada a sair do molde que me imprime o dia a dia e a experimentar: emoções, gestos, imaginação. Hoje, o teste era fazer com que a gestualidade trouxesse os sentimentos e que estes permanecessem depois de abandonados pelo corpo.
O primeiro foi simples: raiva. Punhos cerrados, boca cerrada, dentes cerrados, a forma física encontrada e a raiva a crescer cá dentro só de se ver emoldurada por aqueles gestos. Depois, relaxados os pulsos e demais pontos tensionados, manter a raiva nos olhos, sem moldura nenhuma a ajudar. Piece of cake, que muito tenho de cadela raivosa quando quero.
Seguiu-se a felicidade. Felicidade... fiz os gestos, alarguei sorriso e braços, abri corpo e mente... rodopiei pela sala e a cada volta buscava mais fundo a vibração que me iria encher desse sentimento. Rodopiei mais e mais, abri o sorriso e os braços mais e mais e descobri... que já não sei como ela é. Busquei no mais fundo de mim e não consegui senti-la. Alegria proporcionada por momentos bons? Sim, com certeza. Sorrisos provocados por surpresas, mimos, carinhos? Claro, estavam lá. Mas felicidade... que se sente mesmo quando nada acontece, que nos aquece por dentro e nos faz rir ou sorrir mesmo quando nada tem assim tanta graça... essa, tive a certeza, perdi-a algures pelo caminho...
Por último, o mote foi o amor. Aquele amor maior que tudo. Que gesto traduz aquele amor maior que tudo? Não precisei pensar muito, não pensei quase nada: abracei. Abracei aquele amor maior que tudo, abracei-o de saudade, de vazio; abracei-o com toda a força. Sim, para mim, quando se ama mais que tudo agarra-se, aperta-se, mergulha-se a cabeça no corpo abraçado e prende-se para que nunca se vá embora. Foi assim que fiz e assim o senti, abraçado a mim pelos meus próprios braços.
Como nota mais jocosa, porque - felizmente - as moedas têm sempre duas faces, os estados de tensão de Jacques Lecoq:
1. Exausto
2. Relaxado
3. Neutro
4. Alerta/Curioso
5. Desconfiado/Sobranceiro
6. Extasiado
7. Pesado/Rígido
Após vários exercícios em diferentes aulas, a brilhante conclusão a que chegámos (colegas, professor e eu mesma), não sem algum riso, é que aquele que me "sai" mais naturalmente, como se de uma segunda pele se tratasse é... o nº 5...
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