quarta-feira, abril 09, 2008

A saga do gato G.



Custou mas foi! Finalmente, o gato G. dispôs-se a usar a estrutura feita de propósito para ele poder estar à janela!

Antigamente, usava uma tábua de passar a ferro, que ali estava quase exclusivamente para seu uso, e que lhe permitia regalar-se com as vistas das traseiras: miúdos a ir para a escola, vizinhas a estender a roupa, cães a passear e...pombas! Muitas! A voar, a passar rente à janela, a pousar nos estendais!

Mas fartei-me da dita tábua, "que treta, agora viver com uma tábua de passar a ferro sempre montada" e comecei a pensar noutra solução. Depois de correr lojas de animais em vão à procura de uma estrutura adequada (porque são feias, porque não têm altura suficiente para chegar à janela, porque são forradas de um material felpudo que deve ficar um nojo num instante, porque o padrão "leopardo" já saiu de moda há muito e porque talvez o gato não goste de se deitar numa imitação rasca de pêlo de um primo afastado...), decidi recorrer a um familiar habilidoso e prestável para fazer uma coisa à medida, copiada de um modelo de uma loja.

E assim foi! Um belo dia a estrutura ficou pronta e foi colocada ao pé da janela para, finalmente, o gato G. poder voltar às suas observações à vida do bairro. Era linda: tinha dois níveis sendo que o último era composto por uma caixa, quadrada, com uma abertura, tipo ninho. O ideal! Quem tem gatos sabe que eles adoram meter o nariz em tudo o que seja caixas... Ora, assim, podia ver a rua de dentro da caixa ou até de cima dela, se quisesse ficar mais alto.

Só que ele...ignorou-a! Olhou, e não demonstrando qualquer curiosidade típica de gato, afastou-se!

Intrigada, fui tentando de tudo um pouco: chamar a atenção dele para a janela, pegar nele ao colo e pô-lo lá em cima, colocar uma alcofa no nível intermédio para se ir familiarizando com a estrutura e, quem sabe, perceber que aquele até é um bom ponto de partida para chegar à caixa...nada. Os dias iam passando e ele não mostrava qualquer interesse. Até se dignava a deitar na dita alcofa mas recusava-se, sequer!, a olhar para a parte de cima.

Um dia, concluí que o problema devia ser da caixa. Talvez fosse pequena demais para ele lá caber dentro e talvez a parte de cima o colocasse demasiado alto para o seu gosto. Resolvi mudar a estrutura e tirar a caixa transformando a sua base numa prateleira. Assim já me parecia melhor! Mais baixo mas continuando ao nível da janela...e coloquei uma almofada na dita para a tornar mais confortável.

E eis senão quando o vejo a olhar para tudo aquilo de modo ligeiramente diferente... Começo então a tentar atraí-lo e de repente decido-me a pegar nele e a colocá-lo lá. Estranhamente, não saiu a correr como se a almofada estivesse a pegar fogo, como vinha sendo costume! Foi ficando...foi ficando...e ficou!

Ok, ainda não morre de amores pela coisa, ainda não sobe para o último nível por iniciativa própria, ainda não se mantém lá o tempo suficiente para adormecer (e ressonar!) como acontecia com a tábua de passar a ferro...mas parece já se ter conformado com a troca. Quem sabe, a partir de agora, e com o hábito, deixe de ter necessidade de me fazer sentir que me meti onde não era chamada...

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