sábado, abril 04, 2009

"Vintra"

Mas porquê? E porque sim? E porque não? E deverá ser assim ou assado? Esquerda ou direita? Bem ou mal? Para onde me viro? O que devo pensar? O que quero fazer? E deve ser agora ou depois? E se vou por ali e afinal devia ter ido por acolá? Questões, questões e mais questões...

Conversa de criança, adolescente inseguro? Não! Conversa de adultos, na casa dos 30, gente supostamente inteligente, madura, confiante, segura, estabelecida, equilibrada...

Dizem que os 30 são os novos 20, os 40 os novos 30 e por aí adiante. Às vezes sinto que os 30 de hoje estão mais a atirar para os 10 e meio, vá lá, tal é a confusão que vai nas nossas cabeças! É que tinha muito mais certezas aos 20 do que tenho agora... e não estou sozinha. E porquê? Simplesmente, porque existe um grave desfasamento entre aquilo que somos e aquilo que é suposto sermos. É como se tivéssemos andado a ver passar navios uma década inteira. Ou como se a dita década não nos tivesse marcado, moldado, preparado como deveria. Como se tivéssemos entrado numa máquina do tempo sendo que metade das moléculas veio e metade ficou para trás. Portanto, ficámos com um pé cá e outro lá, algures no tempo. E agora, que já temos idade para ter juízo e tomar decisões sérias, agora que deveriamos começar a entrar na fase estável da idade adulta... "Errr... ai, espera lá... mas isso já é agora? Mas não me apetece...!"

Entalados é o que nós estamos. Entalados entre duas visões do mundo. Uma da geração que nos serviu de modelo mas com a qual não nos identificamos. Pessoas que, aos 30, tinham efectivamente 30, se sentiam com 30, se comportavam como tal e tinham vida de quem tem 30, ou pelo menos, o que está estabelecido para quem tem 30. A outra que nos apela, nos atrai, e que nos faz mais sentido, a dos jovens adultos que ainda não o são totalmente, mas com a qual também não nos encaixamos na perfeição porque a fase da vida, efectivamente, não é a mesma.

E o tempo a passar. O tempo que não pára, o tempo que exige decisões, o tempo que não dá descanso.

A vontade que dá é gritar: pára tudo! Parou aqui, não mexe mais até eu conseguir desatar o nó no cérebro, faz favor! Porque sim, estou na casa dos 30 mas não me sinto como a minha mãe se sentia com esta idade, não quero as mesmas coisas que ela, não vivo a vida da mesma maneira; e sim, estou na casa dos 30 mas continuo a gostar de ter a liberdade e energia e tudo o resto que caracteriza alguém que ainda não tem responsabilidades de maior, embora já as tenha. Porque entre o que é condizente com a idade e aquilo que quero e sinto e vivo vai uma distância considerável. Porque o que está no BI não é o que está na cabeça. Porque não é nada fácil de gerir, e ninguém explica, e é uma situação de "entalanço" completo! Portanto, preciso de mais tempo para pôr a cabeça em ordem e encontrar um lugar onde me encaixar!

Mas como o tempo não ouve... resta-me improvisar. Para me organizar mentalmente decido então alterar as regras do jogo, mudar a ordem natural das coisas e declarar que, afinal, existe uma outra idade que desafia as leis da natureza e que se recusa a deixar catalogar de acordo com os dados do arquivo de identificação. Uma idade onde se encaixa gente adulta, independente, crescida, com emprego, responsabilidades, casa e afins, até crianças a cargo se for o caso, mas que continua a ter "pica" para se atirar à pista de dança como se não houvesse amanhã, que continua a querer juntar os amigos em jantaradas e rir e fazer disparates sem se deixar amendrontar pela reunião do dia seguinte às 9h, que continua a brincar, a brincar muito! e não exclusivamente com os filhos, que se recusa a aceitar seguir as regras do que é suposto para esta ou aquela idade e cria as suas, que vive e sente que tudo ainda está em aberto. Chamo-lhe "vintra". E somos nós. Temos trintas claro que temos, e não os repudiamos, até nos orgulhamos. Chegámos aqui e estamos melhores que nunca! Mas também temos vintes e quinzes e dez, tudo misturado, a moldar-nos de forma única.

Nem sempre tudo é claro, nem sempre tudo é fácil, chega até a ser doloroso. Porque é sempre mais simples seguir um caminho que já existe. Mas pronto, aqui estamos, esta é a nossa realidade. E é, digamos... diferente. Mas eu diria que, aqui, a diferença tem tudo para ser boa...

2 comentários:

Paulo Oliveira disse...

That's me! :)

Felicidades, continua assim ;)

t disse...

:) And me! bjs