sábado, maio 28, 2011

É a fingir

Começando pela célebre frase, que já nem sei bem quem disse e que soa mais ao menos assim: o período de maior descoberta é também o período mais difícil da vida de alguém. Descobertas. O que descobri eu? Descobri que sobrevivemos, aconteça o que acontecer. Que quando achamos que nunca seria possível passar por tal provação ou que não aguentamos mais, o nosso organismo contraria-nos continuando a respirar. Descobri que as ilusões matam por dentro e que, na realidade, quase nada depende de nós. Como não depende de nós, da nossa vontade, que o organismo continue vivo. Descobri que é possível chorar sem lágrimas e que há dias em que o tempo não vale nada, só passa como é seu hábito. Descobri que não sou quem quero e que não sei quem quero ser.

Estendo a mão, tento tocar e, percebendo que o meu braço é curto demais, deixo-a estendida para que me consigam ver e, quem sabe, até façam um esforço para chegar a mim. Às tantas, o braço cansa-se e deixa-se cair.

A pior solidão é aquela que se sente mas não se vê, é aquela que disfarça, dissimula, finge que não existe, fechando-se em si mesma, no seu próprio mundo impenetrável, não há como lhe chegar. É aquela que sobrevive no meio da multidão, silenciosa, persistente, que não se deixa perturbar por um beijo ou qualquer sopro de carinho. Por palavras doces ou por um "vem cá, deixa-me entrar".

E ouvi "já não está deprimida o que não quer dizer que esteja feliz". E perguntei-me: e agora? Qual é o remédio? Porque para a depressão existem a terapia, os medicamentos, as técnicas, os profissionais e as sessões mais ou menos prolongadas de choradeira e lamentos. E para a tristeza? Onde está o comprimido? A quem se recorre a pedir ajuda? Qual é a cartilha que se deve seguir? "Porque não é só a tristeza, sabe, é a parede de gelo que adormece os órgãos e nos fecha."

Raiva, muita raiva, tanta raiva, que consome e desidrata. Seca-nos como uvas-passas. E a vergonha de responder "não" à pergunta "estás bem?". Por isso respondo "sim" e pronto, acabou-se a conversa. Estou cansada dos olhares, sobretudo dos olhares. Que se lixe, minto. Assim não olham para mim e podemos todos fingir que a realidade é aquela que se pinta.

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