O telefone tocou e a voz do outro lado apresentou-se como um arrastão. Ouvi as suas lágrimas a cair no chão enquanto me dizia "Disseram que com o tempo melhorava. Mas é mentira, mentira! O tempo só faz com que a saudade aumente." Calei-me, sem saber o que dizer. A torrente de soluços do outro lado continuava e eu calada. Gostava de saber as palavras mágicas para as poder partilhar mas também para as ouvir, também para as dizer a mim própria. Gostava de ter a solução. Não tenho. Atrevi-me a dizer, depois de largos segundos em silêncio: talvez não seja o momento, e a voz banhada em lágrimas retorquiu com uma pergunta "Então quando será? Quando?". Não sei. Calei-me outra vez. Enquanto andava vi o meu reflexo num vidro. Ali estava eu, de telefone na mão, ombros quebrados, boca fechada. Repeti o que achava sobre o momento, repeti sem convicção apenas para tentar dizer alguma coisa. Repeti para que essas minhas palavras me ajudassem a manter-me no limbo onde me refugio enquanto sentia as mãos das lágrimas a abanar a minha estrutura, a querer-me fazer cair dali. Observei o meu reflexo, ali estava eu, parada, calada, inerte. Porque me são feitas estas perguntas? Porquê a mim quando é tão óbvio que não tenho qualquer resposta..?
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