terça-feira, junho 14, 2011

"3 segundos" roubados

"“Tenho saudades tuas” gritou com o olhar, no acto irreflectido ao procurá-lo.
Só por 3 segundos. Para saciar o desejo de o ver.
Acenou-lhe ao longe. E ele devolveu-lhe o sorriso. Um sorriso inexpressivo. Talvez forçado.
Não quis saber. Foi-se embora.
Por apenas 3 segundos, absortos em silêncios de uma despedida antiga, por acontecer.
Há sorrisos que nunca voltamos a ver.
Seguiu em frente. Aquele já não era, há muito tempo, o seu lugar. Porque há lugares que descobrimos e amamos, mas que não podemos ficar. Ela já tinha amado aquele lugar. Mas agora, tão pouco o pode visitar.
3 segundos de olhar. Segundos que preenchem o vazio da ausência. Olhar, só para parar de recordar. As recordações baralham, torturam. Há olhares que amamos sem perceber, entram-nos na alma, cravam-se no peito. Cegam-nos de prazer. Ela já amou aquele olhar. Mas agora os olhares escondem-se na escuridão, que é olhar sem ver.
3 segundos bastaram. Para o beijar. Na boca, na língua, na pele. Beijar sem respirar. Há beijos que não se conseguem evitar. Ela já amou aquele beijo. E pensou que aquele beijo a amava também. E confundiu o seu beijo angustiado à partida, com a despedida. Fria. Silenciosa. Que o beijo dele tem.
Há beijos assim, violentamente desejados em escassos segundos, eternamente ancorados em terra de ninguém."

S.G.F.

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