«Os anos chegam desprevenidos, sem plano, e começam por tomar informações com os anos que saem. E então, pelas notas colhidas, como um dramaturgo, preparam os seus episódios! Ah! Que diria o Ano Velho, ao partir com as suas malas e as suas rugas, a este Ano Novo que chegava, inexperiente e curioso? Que confidências trocaram, ao encontrar-se nessa misteriosa estrada por onde caminham os dias e os anos, pacientes transeuntes da Eternidade? O Ano Velho recolhia-se: estivera trezentos e sessenta e cinco dias em Portugal: ia enfastiado e embrutecido, percebia-se que ia de cá pela grosseria dos remontes das botas; tinha os dedos queimados do cigarro e trocava o B pelo V; levava o estômago estragado da mesa do hotel; ia ressequido da falta de banhos; palitava os dentes com as unhas; sabia ajudar à missa; assoava-se a um lenço vermelho; perguntava a todo o propósito "o que há de novo?" E era reformista. Estava alusitanado. - o Ano Novo vinha da frescura do Céu.»
in «As Farpas»
Dez. 1871
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