"Naquele dia não queria..."
Naquele dia não queria pensar. Decidi, aliás, justamente naquele dia, que não iria pensar mais. Ensaiei o discurso e entrei porta adentro, decidida de decisão nas mãos e na ponta da língua, decidida de cansaço, decidida de coragem. O ciclo iria quebrar-se e, por mais que o quisesse, por mais que desse fim necessitasse, tinha medo. Mas entrei: decidida.
Antes que pudesse dizer alguma coisa, a ânsia nos olhos falou por mim e a pergunta não se fez rogada: o que se passa?
Estanquei uns segundos de forma a tentar travar as lágrimas que se empurravam umas às outras mas foi em vão: o discurso ensaiado perdeu-se no espaço, a decisão tão decidida revelou as pernas bambas, o medo gritou abafando tudo em seu redor. Entre lágrimas e soluços, tentei recuperar o fio da meada das minhas razões e expliquei o meu objectivo: parar. Parar de pensar, de analisar, de escrutinar. Parar de tentar entender, de tentar encontrar respostas, de me dar explicações. Parar. Aceitar as perguntas no ar, aceitar os vazios e, a partir daí, viver. Queria só parar. Para viver.
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