É raro, muito raro, mas por vezes a angústia toma conta de forma quase absoluta. E a lembrança de outras angústias, tão profundas e, por isso, tão incapacitantes durante tanto tempo, alimenta-a: o dia nasce e os olhos recusam-se a cerrar novamente. Saio e aprecio o tempo ainda fresco de Verão. Aqui, casa de infância, onde a natureza se impõe mais: água a correr e cheiro a campo de madrugada. Reconheço que a angústia não dorme comigo, pelo contrário, sapateia em mim todo o tempo, tentando despertar-me e, não atingindo o seu objectivo, mostra-se em pleno quando finalmente o dia a começar faz o seu trabalho. É esse o momento de maior luta: a luta pela sobrevivência, pela prevalência. Enjoa-me, enganando-me, domina-me a mente ainda sonolenta até que eu consiga espantá-la para o seu devido lugar. Abro os olhos, recuso a que se instale, permito que as outras realidades e o dia que começa vinguem. E assim sobrevivo a mais uma luta.
É raro, muito raro, mas tento apreciar o facto de me ter trazido até aqui.
(Tenho medo, ainda assim. Tenho medo que me tenha, apesar de tudo, moldado a vida ...)
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