Os amigos dividem-se em dois grandes grupos: os que ficam e os que se vão embora. A partir daqui haverá mais subdivisões a ter em conta mas por hoje concentro-me nesta.
Os amigos que ficam, os que, no fundo, são senhores e detentores do grande "A" , são aqueles que, mais próximos ou menos, mais presentes ou mais ausentes, mais participativos ou mais discretos, nos atendem sempre o telefone com um sorriso, combinam um café num abrir e fechar de olhos e falam da vida com o à vontade de quem se sente em casa.
Existem depois os amigos que se vão embora. Pessoas que cruzaram a nossa vida em determinado momento, com quem houve aproximação e empatia suficiente para serem colocados na lista da amizade mas que, por iniciativa deles ou nossa, ou porque a vida assim o decidiu, movem-se agora num universo que não nos inclui.
Mesmo quando a decisão de separação é nossa, mesmo sendo nós a concluir que a empatia que justificava a nossa amizade já não existe e que a teia que nos enredava se rasgou, há sempre uma saudade que fica. Saudade das cores da nossa amizade, porque cada amizade tem uma paleta de cores diferente, saudades da ligação que conseguimos estabelecer que é sempre particular e irrepetível, saudades do momento que vivíamos nessa altura... Quando a ruptura parte do outro lado... dói. Porque para nós essa amizade podia ainda estar longe do fim e podiamos continuar dispostos a investir e a fazê-la crescer, porque continuamos a gostar de a sentir e ouvir, porque ainda nos sentimos, como nos dias de chuva em que estamos em casa, confortáveis e quentinhos e seguros, porque a amizade aquece e ajuda-nos a construir o que somos... Porque é uma rejeição, é ouvir sem som as palavras "já não gosto mais de ti".
Nesse momento, sentimo-nos de volta à primária, pequeninos e inseguros, achando que é o fim do nosso mundo porque não podemos brincar. Nesse momento, duvidamos, questionamo-nos, tentamos perceber onde errámos, não queremos acreditar que o nosso amigo não seja tão amigo assim, tentamos arranjar explicações mais ou menos lógicas que consigam justificar esta falta de interesse na amizade que temos para oferecer. Porque acabamos sempre por tentar desculpá-los... afinal de contas... são amigos... (eram?)... são...
Mas chega-se a um ponto, tal e qual como nas relações amorosas, em que temos que escolher um de dois caminhos: ou continuamos a insistir na esperança de recuperar o que se perdeu porque nós sentimos falta, ou deixamo-lo ir. Os mais racionais vão directos para a libertação, muitos de nós têm que passar pelo primeiro dos caminhos até finalmente encontrar o outro... mas acredito que chega sempre a altura em que percebemos simplesmente que a amizade não pode ser unilateral. A amizade alimenta-se de sorrisos de parte a parte, de atenções de ambos os lados, cresce e desenvolve-se bebendo dos gestos que damos e recebemos e por tudo isso só a merece quem a consegue retribuir.
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