Ouço qualquer coisa, sim, lá longe mas ignoro. Finjo que nada acontece e volto-me para o outro lado. Mas algo me faz começar a abrir os olhos devagar... a luz a fazer-me piscar, os ouvidos a despertar e a deixar entrar os sons. Os sentidos a espreguiçarem-se e a porem-se a postos. Já não, não quero que seja já! Todo o meu corpo reage negativamente, encaracolando-se ainda mais porque está bem assim, quente e confortável, não quer mudar... Começo a ter consciência de mim e essa consciência é a minha maior inimiga. Só serve para confirmar o estado de graça em que me encontro. O vento lá fora e eu aqui, que bom... Mais uma volta, mais um suspiro e o meu casulo a moldar-se às minhas vontades. Luto (mas não com todas as forças) para que a razão venha ao de cima, esforço-me para que a névoa que me envolve e conforta se dissipe e deixe passar a claridade que me irá fazer despertar para o mundo, para a vida, para o dia. Decido que sim, que tem que ser, que será agora, que só vou virar-me mais uma vez e depois deixo a energia começar a correr. É agora, só mais esta vez, é agora... mas de repente... sinto algo quente, macio, fofo... abro um olho devagar e à minha frente encontro um par de olhos verdes, semicerrados, duas patas esticadas na minha direcção, um "prrrrrrrrrrrrr..." de som de fundo e um suspiro mole e ronceiro de quem pretende continuar por ali...
É uma luta inglória...
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