As notícias sucedem-se, os comentários também. Analistas de toda a espécie, dirigentes de outros partidos, sumidades nas diferentes matérias e nós, os restantes. As redes sociais enchem-se de "partilhas" de notícias, o que foi decidido, o que vai acontecer, onde se vai cortar, e não há quem perca a oportunidade de dizer de sua justiça. E, é claro, os dedos de todas as mãos estão apontados a "eles". Eles que só fizeram porcaria quando lá estiveram, eles que são os grandes culpados, eles, os grandes gatunos em quem ninguém toca, eles que nos deixaram na miséria em que estamos, eles em quem vocês votaram, eles, eles, eles.
Mas será que ninguém percebe que "eles" somos todos nós??
Nós que vamos para a praia em vez de votar; nós que não nos damos ao trabalho sequer de ler "as gordas" dos jornais para perceber o que se passa mas não perdemos a edição desta semana da Caras; nós que fugimos aos impostos quando podemos porque quem não o faz é otário; nós que permitimos que, nas nossas barbas, outros fujam aos impostos sem pensar que o que depois faltar é a nós que vai ser cobrado; nós que pegámos nos subsídios dados pela União Europeia para a modernização da agricultura, da indústria e construímos uma piscina mais ou menos olímpica no quintal a fazer "pandan" com o jipe novo e a banheira de hidromassagem; nós que vivemos de aparências e de cartões de crédito; nós que abandonamos animais por não poder suportar a despesa mas que não abdicamos da TV Cabo nem do telemóvel nem do carro para ir todos os dias para o trabalho; nós que nos aproveitamos da falta de fiscalização para ser "mais esperto" e contornar o sistema; nós que achamos que não temos que nos sujeitar às mesmas regras dos outros e arranjamos sempre forma de ter "um amigo lá dentro" que dá uma mãozinha; nós que não denunciamos, nós que não nos manifestamos, que não exigimos; nós que até somos contra quem se manifesta não nos dando ao trabalho de perceber se as greves ou manifestações que vão surgindo aqui e ali têm alguma razão de ser, simplesmente somos contra porque "olha agora que chatice, eu que já vou atrasada para a manicure ainda tenho que levar com fila"; nós que aproveitamos para fazer telefonemas pessoais "lá do serviço"; nós que andamos a viver há tempo demais acima das nossas possibilidades e parece que não percebemos que essa foi uma escolha nossa, que ninguém nos apontou uma arma à cabeça para fazer aquele crédito ou comprar aquela casa; nós que somos incapazes de dedicar algum do nosso tempo a uma causa porque essa história do voluntariado não ser pago não dá jeito nenhum; nós que optamos por apontar dedos, sacudir a água do capote e não fazer mais nada para além de olhar para o nosso umbigo, para os nossos interesses individuais, os outros que façam alguma coisa que "eu não sou pago para isto"; nós, em suma, que preferimos alhearmo-nos da nossa responsabilidade e esperar sentados que alguém venha resolver os problemas para os quais todos contribuimos, desde que o faça sem chatear muito.
Portanto, caríssimos, o país que temos, é SÓ a nossa cara...
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