terça-feira, maio 08, 2012

A lista

Foi sempre assim, nem me lembro desde quando. Continuou, mesmo já dando eu às asas de forma independente, mesmo já senhora do meu nariz. Era um ritual que me garantia segurança mas, muito mais do que isso, era nosso e esse era o predicado que justificava por si só a teimosia na sua preservação.

Ligava e pedia: "vai listando coisas de que não me posso esquecer". E tu, naturalmente, porque para nós era do mais natural, tivesse eu ou tu a idade que tivéssemos, começavas a enumerar o que não podia faltar numa viagem, mesmo tratando-se de um fim de semana a três passos daqui.

A lista, ao longo dos anos, foi-se modificando, adaptando-se ao correr dos tempos e abraçando já as novas tecnologias (tens que levar o carregador), nunca esquecendo as condições climatéricas (samarra! pronto, está bem, talvez não uma samarra mas uma coisa quente que deve estar frio), passando pelos básicos mas tão essenciais (não te esqueças da escova de dentes!).

Hoje, como sempre, como quando te tinha do outro lado do telefone e mesmo como quando já não te podia ligar, fiz mentalmente a lista dando-lhe a tua voz. Porque, por instinto, será sempre o meu ritual. Porque não posso viajar seja para onde for sem a ouvir de ti.

Sem comentários: