"Ser capaz não é para falar de livros, esta crônica é para falar de capacidade. Do quanto somos ou não capazes de enfrentar nossas limitações, capazes de noites em claro, capazes de questionar nossa própria sanidade. Do quanto somos incapazes para fórmulas prontas, incapazes de concordar cegamente com o que parece fazer sentido, incapazes de dizer amém.
Do que você é capaz?
Sou capaz de quase tudo, talvez até de matar e morrer, se a dor for insuportável. Sou capaz para o ilegal, o imoral e o insano, só não me sinto capaz para o injusto...
Sou capaz para o segredo, sou capaz para o inferno, sou capaz para o silêncio, sou capaz para o irrecuperável, sou capaz para o fracasso, sou capaz para o medo, sou capaz para o bizarro. Minha incapacidade é para a frescura, para a fofoca, para a vaidade, para a seriedade que conferem ao que é irrelevante, e quase tudo é irrelevante, quase tudo que está à vista.
Sou capaz para o que não conheço e torno-me quase incapaz para o que conheço bem demais. Sou pouco capaz para a matemática, para física, para a culinária, para a religião. Talvez seja capaz para a mediunidade, mas nunca tentei. Sou capaz para a loucura, mas costumo frear a tempo. E, quando preciso de solidão, sou capaz de me declarar inábil para tudo o mais, na esperança secreta de ser deixada em paz.”
Martha Medeiros
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