Logo no primeiro dia deste ano que já começou, ouvi de alguém que 2012 não deixa saudades... Concordei de imediato, cá no meu íntimo, mas depois de o fazer, alguma areia do meu monte de memórias já calcado se soltou, ficando a pairar em mim durante estes dias, fazendo-me ter vontade de remexer neste passado recente e perceber, afinal, que razões me levaram a, tão celeremente, taxá-lo de mau ou inútil...
Estanquei em alguns aspectos, evoluí noutros, dei o pontapé de saída para um projecto há muito desejado, arrisquei. Tive provas de desamor e tive grandes provas de amor. Houve dias em que me senti a pessoa mais pequena do mundo mas também os houve em que os gestos de afecto que recebi me mostraram como afinal sou "grande" para quem me rodeia. Emocionei-me até às lágrimas, odiei, amei. Derrubei finalmente muros por mim criados para descobrir que quem tinha ficado do lado de lá continuava no mesmo sítio, à minha espera. Fiz figura de parva e fiz as pazes comigo mesma, perdoei-me. Aprendi a gostar mais de mim, dei a cara a desafios e superei-os, exigi de mim, corpo e alma, até à exaustão, procurei incessantemente caminhos. Fiz coisas novas, conheci pessoas novas, reencontrei outras que, quem sabe, não passam agora a fazer parte de mim também. Sonhei. Desesperei-me, passei a tratar a angústia por "tu", chorei mas não tanto como antes, desacreditei e voltei a acreditar, desisti e muni-me de forças para me levantar outra vez, gritei comigo mesma, apelei a todos os "santos", dei-me ao desconhecido, iludi-me, desiludi-me e surpreendi-me. Recebi mais um membro na família. Passei os primeiros dois dias de férias de Verão a apreciar o simples facto de estar parada. Li menos do que gostaria, tive medo, surpreendi-me comigo mesma, remexi no passado e encaixotei-o, ocupei um novo espaço onde me senti em casa desde o primeiro segundo, como se nunca tivesse estado noutro lugar. Ri como há muito não ria, ri até às lágrimas. Aprendi a viver com cicatrizes. Achei que o meu coração iria parar por não aguentar mais e até o desejei. Voltei a cantar pela casa, voltei a dançar sozinha na sala com a música aos altos berros. Tomei decisões e comecei a fazer planos. Cresci como ser humano, mulher, amiga, filha, prima, sobrinha. Reparei que, cada vez mais, me tratam por "senhora". Tive saudades, muitas saudades, testei-me, tive conversas importantes, graves, definitivas, dei esclarecimentos há muito adiados e com eles tirei alguns pesos de cima. Redefini-me, reestruturei-me, tive surpresas, falei, falei, falei. Constatei, por diversas vezes, que estou rodeada de mãos que não me querem deixar cair mas que, se assim tiver que ser, me amparam a queda, e que ficam comigo até ser a altura de me ajudar a levantar. Reforcei laços. Deixei de temer pessoas, telefonemas, más notícias. Vivi a "gota de água" e senti-me inundada por ela. Cortei laços, fios, pontas soltas. Senti dor e alegria. Voltei a mim, a muito do que sempre fui...
Talvez porque tenha sido um ano que começou sem grandes expectativas, um ano que apenas se
seguia a outros, um ano que prenunciava simplesmente uma continuação, um
ano que até se desejava morno em contraste com outros mais termicamente
acidentados. Talvez porque as revelações e avanços tenham parecido
modestos, talvez por ter tido, também, dias menos claros cuja memória é
sempre apaladada por um certo amargo de boca. Talvez por não ter sido O
ano em que tudo aconteceu, em que tudo se resolveu, em que a vida virou
180º e me provou que afinal veio para ser fantástica e corresponder a
todos os meus desejos. Talvez...
Mas, afinal, talvez não tenha sido só mais um ano...
Sem comentários:
Enviar um comentário