sexta-feira, janeiro 11, 2013

Revisitando

Logo no primeiro dia deste ano que já começou, ouvi de alguém que 2012 não deixa saudades... Concordei de imediato, cá no meu íntimo, mas depois de o fazer, alguma areia do meu monte de memórias já calcado  se soltou, ficando a pairar em mim durante estes dias, fazendo-me ter vontade de remexer neste passado recente e perceber, afinal, que razões me levaram a, tão celeremente, taxá-lo de mau ou inútil...

Estanquei em alguns aspectos, evoluí noutros, dei o pontapé de saída para um projecto há muito desejado,  arrisquei. Tive provas de desamor e tive grandes provas de amor. Houve dias em que me senti a pessoa mais pequena do mundo mas também os houve em que os gestos de afecto que recebi me mostraram como afinal sou "grande" para quem me rodeia. Emocionei-me até às lágrimas, odiei, amei. Derrubei finalmente muros por mim criados para descobrir que quem tinha ficado do lado de lá continuava no mesmo sítio, à minha espera. Fiz figura de parva e fiz as pazes comigo mesma, perdoei-me. Aprendi a gostar mais de mim, dei a cara a desafios e superei-os, exigi de mim, corpo e alma, até à exaustão, procurei incessantemente caminhos. Fiz coisas novas, conheci pessoas novas, reencontrei outras que, quem sabe, não passam agora a fazer parte de mim também. Sonhei. Desesperei-me, passei a tratar a angústia por "tu", chorei mas não tanto como antes, desacreditei e voltei a acreditar, desisti e muni-me de forças para me levantar outra vez, gritei comigo mesma, apelei a todos os "santos", dei-me ao desconhecido, iludi-me, desiludi-me e surpreendi-me. Recebi mais um membro na família. Passei os primeiros dois dias de férias de Verão a apreciar o simples facto de estar parada. Li menos do que gostaria, tive medo, surpreendi-me comigo mesma, remexi no passado e encaixotei-o, ocupei um novo espaço onde me senti em casa desde o primeiro segundo, como se nunca tivesse estado noutro lugar. Ri como há muito não ria, ri até às lágrimas. Aprendi a viver com cicatrizes. Achei que o meu coração iria parar por não aguentar mais e até o desejei. Voltei a cantar pela casa, voltei a dançar sozinha na sala com a música aos altos berros. Tomei decisões e comecei a fazer planos. Cresci como ser humano, mulher, amiga, filha, prima, sobrinha. Reparei que, cada vez mais, me tratam por "senhora". Tive saudades, muitas saudades, testei-me, tive conversas importantes, graves, definitivas, dei esclarecimentos há muito adiados e com eles tirei alguns pesos de cima. Redefini-me, reestruturei-me, tive surpresas, falei, falei, falei. Constatei, por diversas vezes, que estou rodeada de mãos que não me querem deixar cair mas que, se assim tiver que ser, me amparam a queda, e que ficam comigo até ser a altura de me ajudar a levantar. Reforcei laços. Deixei de temer pessoas, telefonemas, más notícias. Vivi a "gota de água" e senti-me inundada por ela. Cortei laços, fios, pontas soltas. Senti dor e alegria. Voltei a mim, a muito do que sempre fui...

Talvez porque tenha sido um ano que começou sem grandes expectativas, um ano que apenas se seguia a outros, um ano que prenunciava simplesmente uma continuação, um ano que até se desejava morno em contraste com outros mais termicamente acidentados. Talvez porque as revelações e avanços tenham parecido modestos, talvez por ter tido, também, dias menos claros cuja memória é sempre apaladada por um certo amargo de boca. Talvez por não ter sido O ano em que tudo aconteceu, em que tudo se resolveu, em que a vida virou 180º e me provou que afinal veio para ser fantástica e corresponder a todos os meus desejos. Talvez... 

Mas, afinal, talvez não tenha sido só mais um ano...

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