sexta-feira, abril 01, 2011

À vontadinha

"À vontade mas não à vontadinha" é uma máxima que me foi apresentada há uns anos e que não poderia traduzir melhor a minha própria noção de como nos devemos todos articular uns com os outros neste mundo onde as nossas vidinhas lá se vão cruzando quando há razão para isso.

Moça dada a distâncias devidas, como eu sou, prezo muito a noção de limites, não tendo qualquer dificuldade em distinguir o traço, para mim bem marcado, da tal linha imaginária que me circunda, que delimita o meu espaço físico, e não só físico, do dos outros.

Mas, claro, não somos todos iguais, e ainda bem senão seria uma chatice e eu não teria assunto para aqui "pespegar".

Não confundo excesso de intimidade com simpatia mas, admito com tristeza, sou das poucas que conheço. Regra geral, as pessoas pensam que ser simpático é estar e deixar as pessoas "à vontade", como se estivesse em casa, como se já nos conhecessemos. E como é que se está e deixa alguém "à vontade"? Falando sem cerimónias, sem formalismos, dizendo graçolas, dando palmadinhas nas costas, contando intimidades, "tu cá, tu lá", "que eu sou mêmo assim, uma pessoa aberta, simples, que diz o que pensa e não tem cá salamaleques!".

Num contexto mais social, em que somos apresentados ao amigo do amigo, ok, ainda vá, tolera-se (no meu caso, com sérias dificuldades, é certo, mas tenho fé de um dia conseguir. Ok, não tenho, mas pronto, iludo-me porque isto é coisa para interferir com o meu sistema nervoso e diz que isso faz mal à saúde). Mas quando toca a relações profissionais/comerciais, convenhamos...! Só que comigo a boa da Lei de Murphy consegue alcançar um outro nível muito além... já não posso considerar só que "tudo o que pode correr mal vai correr" mas também que "tudo o que mais me irrita também me vai acontecer, várias vezes, a mim e só a mim, com o propósito kármico de me fazer baixar a crista e não ter a mania!".

Posto isto, o que tive eu o prazer de ouvir hoje???

Depois de me ter dirigido a uma loja de uma rede imobiliária a pedir algumas informações, onde acabei por deixar o meu contacto para futuras conversações sobre o eventual destino do meu bem imóvel, recebo um telefonema da "colega que foi almoçar" e que era quem tratava do assunto:

- "Boa tarde, sou a ...., estou a telefonar no seguimento da sua visita, tal e tal... 'Tá boa, querida? Olhe, 'atão vamos lá ver, portanto tem uma casa a venda assim e assado, não é? Prontos, tudo bem, temos uma pessoa eventualmente interessada mas queria confirmar: este valor já é com a nossa comissão? É que não convém nada, queridinha, porque a senhora em causa, coitada, só tem X, por acaso é uma situação complicada, diz que ela vivia à grande e à francesa com o marido, numa vivendona em Cascais mas olhe, deixou-o. Deixou de gostar dele, 'tá a ver? Estas coisas acontecem, é mesmo assim! Bom, mas e agora ficou com as duas miúdas e está a querer viver só do seu ordenado, o que eu acho muito bem! Mas, pronto, isto para dizer que ela só pode ir até Y... o que acha, rica, acha que assim fica simpático?? Ai, óptimo, querida, assim é que é! Quando tiver a visita confirmada ligo, ok? Um beijinho, querida, obrigado!!"


Hein? Que tal?? Eu mereço, só pode!, eu mereço... aposto o que quiserem que na próxima encarnação vou ser um docinho de pessoa..!

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