A tribo volta a reunir-se. Como sempre, mesmo que não nos lugares de sempre, somos nós, sempre nós. O copo na mão, a música alta, a palhaçada do costume, os risos e conversas, tão nossas, tão "nós". E olho em volta, em volta da mesa, em volta do bar, e vejo-nos como há sei lá quantos anos atrás, os mesmos, o fio que nos liga intacto, pertencendo uns aos outros. Mas vejo também a vida estampada nas caras adolescentes, o caminho percorrido até aqui como num mapa, quem éramos, quem somos hoje, e como realmente o mundo gira, às vezes depressa demais, às vezes de forma turbulenta de mais. E as marcas lá estão, a máscara dos caminhos do destino a enfeitar os olhos de adolescente.
E espero. Sou pessoa que espera. Espera por dias melhores, espera por sinais, espera por atenção, reconhecimento, amizade, amor. Em alguns casos, espera sentada porque não há outra forma, noutros espera retribuição do que um dia deu, vai dando sempre, de forma activa e consciente, e espera por essa consciência como paga. Não menos, nunca menos. Mas muitas vezes ela não vem. E eu vou deixando de esperar. Não obstante, e tendo já ganho a certeza de que não vale a pena tentar contrariar o que a mãe natureza resolveu impregnar nos meus genes, espero sempre um bocadinho, todos os dias, espero sem querer, espero... e todos os dias me desiludo mais um bocadinho também.
Deito a cabeça na almofada, esperando que a "droga" faça efeito rápido, porque os copos a mais e as palavras deitadas na rua rodopiam no meu cérebro. Uma única lágrima cai, silenciosa, sem deixar rasto, mas a dor e a saudade gritam sempre bem alto, apertam o peito da boca cerrada, corróiem como ácido, silencioso ele também enquanto penetra e mata o que vai encontrando pelo caminho. Saudade, esta tão portuguesa, cantada e recantada, mora em mim como se nunca tivesse pertencido a outro lugar. Afasto memórias, afasto com pressa porque não quero ir lá tão fundo, e deixo-me levar pelos químicos para o lado de lá de nós.
Tentei controlar o tempo, agarrá-lo com as minhas próprias mãos não permitindo que corresse. Apertei-o contra mim, com todas as forças, mesmo sentido que ele me ia escorrendo entre os dedos. Sabia que não cabia a mim travá-lo, sabia que não cabe a ninguém porque o tempo tem vida própria e faz sempre o que quer. Mas era crente, crente ao ponto de acreditar que o podia conter em mim. Um dia, não sei qual dia, desisti. As mãos fraquejaram, os dedos dormentes da pressão cederam e a corrente seguiu o seu caminho. Desisti e com tristeza constatei que tudo tinha sido em vão. Rendi-me a ele, deixei-me levar, submergi e resignei-me à sua força. E é por aqui que ando, um pouco à deriva mas já sem ser tartaruga deitada de barriga para o ar. A carapaça endireitou-te e tenta agora apreciar a viagem.
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