A inércia mental muda-nos. A resignação muda-nos. A tristeza muda-nos. A incapacidade de definir um rumo, um propósito, muda-nos. A ausência da suposta luz ao fundo do túnel, de metas, muda-nos. Muda a forma como os nossos olhos recebem um novo dia, como nos vemos ao espelho, como sentimos a água fria na cara quando a tentamos acordar. Muda o pequeno almoço para apressado e em pé, mudam as conversas que temos com as paredes, altera-se o ritmo como se conduz até ao trabalho. Muda a posição das costas ao longo do dia, mudam os pensamentos a vaguear pela cabeça, muda a música que ouvimos no rádio. Muda a perspectiva de fim de semana e a atenção que damos ao que os amigos nos confidenciam. Muda a postura com que estamos nos lugares da cidade e da vida. Mudam-se os sorrisos e a posição das mãos, mudam-se as tensões no corpo. Muda o brilho dos olhos.
Falávamos, no outro dia, eu e a V.. Falávamos desse brilho e do queixo levantado com que se deve encarar a vida, da abertura de espírito, da sede de receber. Falávamos, assim, de um passado, saudosistas, até. Tentei explicar o que muda, como muda, porque é que muda. E, em silêncio, combinámos que havia de mudar outra vez.
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