Outra vez
Há poucos traços tão comoventemente humanos como a nossa infinita predisposição para começar de novo.
Setembro, como por aqui escrevia há dias o Nuno, presta-se bem a ela. À vontade de fazer outra vez, mas bem feito, ou melhor. Começar a direito, sem os erros do passado, as desatenções, a preguiça, a ingenuidade, o excesso, o descontrolo, a reincidência, o vício, a tentação e tudo o resto que o leitor queira acrescentar ou substituir. Acordar mais cedo, fumar menos, comer melhor, trabalhar com mais disciplina, sair a horas, não ceder a tantos convites, não cair em tantas esparrelas, atender sempre o telefone aos amigos, responder a todos os e-mails, ligar em todos os aniversários, estar presente, ser um homem ou uma mulher que admirássemos. Ou a promessa de frequentar o ginásio que já se paga. De ler todos os livros da estante antes de comprar outros. De cozinhar mais e comprar menos fora. Andar mais a pé e menos de carro. Dormir oito horas. Escrever em dias certos. Estar perto das pessoas. Acumular menos tralha. Conservar apenas o que é útil. Regar, diariamente, as plantas. Não adiar, diariamente, os dias. Escutar mais, esperar mais, acompanhar mais. Perder menos tempo com tudo quanto já se percebeu ser perda de tempo. Deixar-se de promessas. Não permitir que este seja apenas mais um Setembro como os outros, quando quase tudo ficou por cumprir. Gritar, aqui dentro e contra nós mesmos, que desta é que é (ou, numa versão mais ternamente ridícula, quem é que manda aqui?).
Por volta de Outubro – ou Fevereiro, no caso das resoluções regadas pelo réveillon, ou um mês depois do reatar da relação ou um mês depois da estreia no novo emprego ou – quase tudo se esboroou. Os cigarros fumados num dia de tensão, as horas mal dormidas para acabar o trabalho que não podia esperar, os amigos e a família que ficaram para trás, mais os livros e a comida saudável e o personal trainer e as plantas e tudo o mais, ultrapassados pela inércia e pela preguiça e pelos nervos e pelo excesso e pelo desmazelo e pelo cansaço. Tudo, aliás, como previsto.
Sempre soubemos que falharíamos, mas voltamos, sempre a tentar. E essa vontade, essa resiliência, essa capacidade infinda para a ilusão, tem de fazer de nós bons homens e mulheres.
Corremos em círculos, mas nem o Criador traçou o mundo em linha recta.
Há poucos traços tão comoventemente humanos como a nossa infinita predisposição para começar de novo.
Setembro, como por aqui escrevia há dias o Nuno, presta-se bem a ela. À vontade de fazer outra vez, mas bem feito, ou melhor. Começar a direito, sem os erros do passado, as desatenções, a preguiça, a ingenuidade, o excesso, o descontrolo, a reincidência, o vício, a tentação e tudo o resto que o leitor queira acrescentar ou substituir. Acordar mais cedo, fumar menos, comer melhor, trabalhar com mais disciplina, sair a horas, não ceder a tantos convites, não cair em tantas esparrelas, atender sempre o telefone aos amigos, responder a todos os e-mails, ligar em todos os aniversários, estar presente, ser um homem ou uma mulher que admirássemos. Ou a promessa de frequentar o ginásio que já se paga. De ler todos os livros da estante antes de comprar outros. De cozinhar mais e comprar menos fora. Andar mais a pé e menos de carro. Dormir oito horas. Escrever em dias certos. Estar perto das pessoas. Acumular menos tralha. Conservar apenas o que é útil. Regar, diariamente, as plantas. Não adiar, diariamente, os dias. Escutar mais, esperar mais, acompanhar mais. Perder menos tempo com tudo quanto já se percebeu ser perda de tempo. Deixar-se de promessas. Não permitir que este seja apenas mais um Setembro como os outros, quando quase tudo ficou por cumprir. Gritar, aqui dentro e contra nós mesmos, que desta é que é (ou, numa versão mais ternamente ridícula, quem é que manda aqui?).
Por volta de Outubro – ou Fevereiro, no caso das resoluções regadas pelo réveillon, ou um mês depois do reatar da relação ou um mês depois da estreia no novo emprego ou – quase tudo se esboroou. Os cigarros fumados num dia de tensão, as horas mal dormidas para acabar o trabalho que não podia esperar, os amigos e a família que ficaram para trás, mais os livros e a comida saudável e o personal trainer e as plantas e tudo o mais, ultrapassados pela inércia e pela preguiça e pelos nervos e pelo excesso e pelo desmazelo e pelo cansaço. Tudo, aliás, como previsto.
Sempre soubemos que falharíamos, mas voltamos, sempre a tentar. E essa vontade, essa resiliência, essa capacidade infinda para a ilusão, tem de fazer de nós bons homens e mulheres.
Corremos em círculos, mas nem o Criador traçou o mundo em linha recta.
Por Alexandre Borges
em Sinusite Crónica
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