sexta-feira, setembro 16, 2011

Delírio em julgamento

E avança a acusação:

Mas que tipo de pessoa temos aqui afinal? Não devia a arguida, como pessoa de bem, exultar qualquer forma de alegria? Não devia a arguida, como bom ser humano que alega ser, receber de braços abertos as mais diversas manifestações de felicidade e alegrar-se com elas? Não devia a arguida sorrir e deixar-se contagiar positivamente com os sons do riso, do riso puro, sincero, franco e cristalino...?

E a defesa, que veste a mesma roupa da arguida, diz:

Devia. Devia tudo isto. Mea culpa, mea culpa... pode ditar a sentença, se se baseia o honrado tribunal apenas e só nesta exposição pouco aprofundada sobre os meus valores morais! Mas antes, umas quantas considerações sobre a natureza do dito:

- estamos a falar de um riso com muitos e muitos decibéis acima do estabelecido por lei para os escapes de motociclos e outros veículos a motor incluindo maquinaria pesada;
- de um riso dono de estridência que me parece desaconselhada perto até de vidros duplos;
- de um riso com notórias semelhanças ao som de vários paus de giz afiados como ponta de faca contra quadro preto durante largos segundos;

Pergunto, então, e por tudo isto, sôtore Juíz, não revela o meu comportamento senão amor ao próximo? Não será a minha atitude perante os factos a grande prova da minha humanidade, tolerância, abnegação, de que dou a outra face?? É que convenhamos, a bem da verdade, eu até poderia estar aqui presente acusada de homicídio mais do que justificado e o facto é que não estou!


Tem razão, cara arguida, tem toda a razão. Vá, pelo caminho do Senhor, vá... que os tribunais divinos e terrenos a abençoem...

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