Nisto, páro no último sinal antes de chegar ao meu destino e ouço uma buzinadela ao lado. Olho e o condutor faz sinal para que abra a janela. Desconfiada, lá me disponho a ouvir o que ele me tem a dizer:
- (com sotaque do Norte) Batata! Cum batata!
O sinal abriu sem me dar tempo de abusar da simpatia do colega condutor do Norte e perguntar mais umas coisitas sobre os conselhos que me dava: mas... batata cozida? Crua? Frita? Se for frita vou já ali ao MacDonalds e esfrego um pacote no vidro! E essa coisa do cigarro... utiliza-se o fumo, é isso? Ou o cigarro propriamente dito? Deduzo que aceso... mas limpa-se a gordura com a brasa??? Porque isto é importante! É que aplicar a sabedoria popular à optimização da performance de peças automóveis não é para qualquer um, é coisa de profissional e eu precisava saber concretamente o que fazer! Mas pronto, não deu tempo e lá nos despedimos com um "obrigadinho, boa noite para si também!" Continuei e só me vinha à cabeça há quanto tempo aquela alma devia vir atrás de mim a ver-me conduzir toda torta e a atirar-me ao vidro feita louca a cada paragem forçada (ou nem por isso) para sentir necessidade de me aconselhar...
Mas enfim. A noite seguiu, com aromas orientais temperados de... sovac... cof, cof, cof... não, quer dizer... café!... (combinamos que aquele odor seria do café, alguma moagem especial, pronto...) enquanto a conversa boa fluia como sempre. Sissas são sempre sissas...
De novo no carro, as duas marrecas a tentar ver a estrada à nossa frente através dos únicos pedaços de vidro minimamente limpos, mesmo juntinho ao tablier... Mas já éramos duas, a tarefa estava facilitada...
Volto a casa através do nevoeiro (e o que eu gosto de nevoeiro!), tal qual D. Sebastião dos tempos modernos (faltava-me o colarinho em harmónio, é certo...), a piorar a visibilidade mas que se lixe, é bonito que se farta, adoro andar lá pelo meio!... e assim me brinda a meia-noite.
Paralelamente, o Universo a dar tréguas. Pode não parecer, amiga, mas é, acho que é essa a intenção d'Ele.
Paralelamente, a noção estranha que forças ocultas podem mesmo existir. Talvez por serem ocultas nunca lhes dei grande crédito mas sei lá, já não sei nada...
Paralelamente, a vida a correr. Muitas vezes embaciada também.