Existem uma fronteira entre "fazer por" e "forçar" uma situação. Fronteira ténue, baça, que balança na nossa cabeça, não se encontrando sempre no mesmo lugar, que contém em si algo de mutável e adaptável dependendo das situações. Não é fácil identificá-la, não é fácil perceber quando a devemos ultrapassar ou se, pelo contrário, a devemos evitar. Mas, a par de muitas outras coisas que a vida vai ensinando a quem quer aprender, percebi que, acima de tudo, devo seguir os meus instintos. Acerto sempre? Não. Já errei muitas vezes e vou continuar a errar. Já dei por mim a transpô-la e a ter que recuar. Já dei por mim a nem sequer chegar perto e a ter que empurrar o corpo para ir mais além.
Mas aprendi a respeitar-me, a respeitar a minha natureza, o meu tempo, a minha sensibilidade. Acima de tudo respeito-me. E ao fazê-lo estou a respeitar quem me rodeia. Aprendi a olhar para dentro de mim e a ler o que no meu íntimo está escrito mesmo que não goste do texto. Aprendi que não adianta tentar ser quem não sou. Há-de fazer sentido, e é minha obrigação para comigo estar atenta, sim, mas também é importante saber esperar pela minha altura certa. Porque se assim não for imprimo violência à minha existência, violência gratuita que não irá gerar nenhum fruto. Porque se assim não for nada realmente produz efeito. Posso-me iludir achando que acatando as ordens objectivas e racionais do cérebro, mesmo ignorando o íntimo que me diz outra coisa, estarei a progredir. Mas não, essa não sou eu. Sou aquela cujas ordens têm que vir de dentro, cujas ordens não são ordens mas sim confirmações, certezas, sentidos. Como lá diz em cima,"simplesmente sente-se" e hoje já sei que se não sentir sou como um boneco de cera, esculpido para a situação, na posição pré-definida, representando um estado que não existe na esperança que este, com o tempo, através da teimosia, consiga transformar a realidade.
Não adianta, não é dessa cera arrefecida que sou feita. Fartei-me de estar na montra, dentro daquela forma, fartei-me de me tentar encaixar nos moldes, de me apertar dentro dos seus limites para, no final, perceber que apenas sufocava na tentativa estúpida e infrutífera de me ver num formato que não era o meu. Fartei-me e aceito assim a minha forma imperfeita, espalhada sobre a mesa de trabalho, a fugir das mãos da pura objectividade mas, mal ou bem, genuína.
Não adianta, não é dessa cera arrefecida que sou feita. Fartei-me de estar na montra, dentro daquela forma, fartei-me de me tentar encaixar nos moldes, de me apertar dentro dos seus limites para, no final, perceber que apenas sufocava na tentativa estúpida e infrutífera de me ver num formato que não era o meu. Fartei-me e aceito assim a minha forma imperfeita, espalhada sobre a mesa de trabalho, a fugir das mãos da pura objectividade mas, mal ou bem, genuína.
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