As palavras saíram marejadas trazendo em si sem dar conta a inevitabilidade de voltar um pouco atrás. O rosto não conseguia mentir, foi evidente, os olhos continuam a carregar a côr da alma. Desilusão, sim, mas também o desejo enorme de acreditar que não é um retrocesso mas sim o reforço da escolha do caminho. Libertação, disse, falta libertação. E do outro lado da linha a constatação da impotência, do que existe para além de nós, em sede de outros, onde não conseguimos chegar. A verbalização de medos comuns mas independentes porque é forçoso que o sejam, porque essa independência egoísta é absolutamente necessária. E a força das palavras a minar e o esforço para as ignorar, para não as deixar passar a guarda e fundir-se com as outras que ecoam no cérebro engrossando o caudal. Só que às vezes não é possível. Mas de um outro lado, o refúgio, o sofá e cobertor quente em noite fria, a mão que se estende, o silêncio, o cheirinho confortável a casa e o calor para acalmar a cabeça que lateja. E a sorte a manifestar-se de novo, tão clara e despretensiosa, como se assim tivesse que ser. Mais benéfica que qualquer químico ou supostos entendidos, diziam. Porque a rede que não deixa cair ao chão, a contra corrente que empurra para a tona de água, essas têm o toque humano mais precioso. E é a humanidade dos gestos que salva qualquer um.
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