sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Slow motion

Ficaste parada. No banco do jardim, encostada, a olhar para o céu. E as nuvens corriam, como nos filmes, a mostrar a passagem rápida do tempo. As nuvens, as árvores a mudar de côr, as pessoas, os carros, tudo à volta a acelerar. E tu ficaste no banco, parada, numa rotação diferente para não dizer oposta. Lenta, muito lentamente observavas, encostada para trás, cansada, muito cansada. E os dias são quase só uma ponte que liga a manhã à noite e tu chegas ao outro lado cansada, muito cansada, com a cabeça a tombar, os braços caídos no banco, os olhos a abrir o mínimo indispensável para ver as nuvens correr.

Dizem "corre também" e tu não corres. Umas vezes porque não tens força, umas vezes porque não percebes para quê. E tu não tomas nada como teu que não entendas. Mas sabes que tens que correr também, algo te diz que sim embora não entendas. Preferias mil vezes ficar ali, encostada no banco a ver o mundo girar, a ver o que ele decide. E depois que te comunique, pronto, que seja o que ele decidir. Porque sentes que não adianta seres tu a determinar nada, porque já o fizeste muitas vezes e o mundo fez o contrário. E estás cansada, muito cansada. Um cansaço esquisito porque o corpo não dói, não se ressente, os músculos estão perfeitamente funcionais. É um cansaço silencioso e displicente, que faz os olhos fechar quase até ao ponto de não conseguires ver as nuvens correr.

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