não é dada pelos ponteiros do relógio nem pela posição do sol... simplesmente sente-se... quando, de repente, faz sentido.
sábado, julho 31, 2010
sexta-feira, julho 30, 2010
Private hell
Depois... depois, o silêncio. O frio do mosaico a fazer-se sentir e a relaxar as veias, a dureza do chão a aplacar os movimentos, a boca cansada dos seus esgares queda-se entreaberta, sem expressão, as mãos outrora em forma de garra, avermelhadas pelos embates, amolecem em concha e fecham-se. O silêncio. A calma que surge depois da violência e devastação. A imobilidade de quem pára, não porque tenha alcançado a sua meta mas porque não tem forças para mais. A paz podre de quem já não consegue gritar.
E depois... depois, ajudando-se, apoiando-se, de novo a verticalidade. A dormência começa a vencer-se apesar de a ressaca ainda estalar na cabeça, do completo desalento roubar as expressões e revestir de inércia todos os músculos. De forma automatica, segue-se, em silêncio, atravessando o escuro.
E... recomeça-se.
Cada vez gosto mais deste senhor...
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.
Mário Quintana
quinta-feira, julho 29, 2010
Hot, hot baby!!
quarta-feira, julho 28, 2010
"Ninguém disse que ia ser fácil..."
E eu com a mania que hoje é sexta-feira...
"Corre esse risco" disse-me então, "corre o risco de se fechar". Eu sei e sinto-o tão bem... fechada a remoer, para dentro a remoer, a tentar dar sentido ao que não entendo mas sozinha, sem ajuda, a esforçar-me para dispensar as respostas que não tenho e viver bem com isso, a evitar fazer mais perguntas, a dedicar-me a dar largas ao esquecimento, almejando a liberdade que o esquecimento traz. Corro o risco, pois claro. Corro por cima dele, através dele, enlaçada nele. Basta olhar para mim, basta parar um bocadinho para perceber que o risco já não é um risco.
Estou cansada, muito cansada. Há dias em que estou muito cansada de me levantar e fazer e acontecer e tentar e esforçar-me e sei lá mais o quê...! Dói. E eu estou cansada que doa. E quero chorar e gritar e muitas vezes não consigo. Mas choro, mesmo assim, as lágrimas não se vêem mas choro só que não é o choro molhado que lava. Estou cansada e todos os dias quando deito a cabeça na almofada peço por um final e há dias em que peço por qualquer final, sem ser esquisita, qualquer um que feche o ciclo e pronto, mesmo mal amanhado, mesmo defeituoso, não quero saber! Mas também já aprendi que, mesmo querendo, a persistente e inconformada cabeça minha não me deixa aceitar restos ou sobras ou finais montados em cima do joelho. Perfeccionista? Talvez... Muitas vezes acho simplesmente que sou pouco inteligente.
terça-feira, julho 27, 2010
"Arcanum conselheiro" para 2010...
Pois que afirma ele várias coisas que, na sua maioria, só dão vontade de rir para não chorar! Não sei se se pôs a escrever parvoeiras justamente porque é louco e isso é o que os loucos fazem, ou se a coisa é mesmo a sério e foi algum deus superior, que não estava para ser portador de más notícias, que lhe bichanou ao ouvido, assim como quem não quer a coisa, e disse: olha, vai lá tu e leva o recado à gaja que tenho mais que fazer e, assim como assim, como não bates bem, pode ser que ela até te ache piada, sendo parecido com ela e tal, e até não barafuste muito com o que o destino lhe reserva.
Posto isto, o (desa)conselheiro pôs-se então a dizer que:
Este ano necessitará de muita coragem para enfrentar grandes desafios.
O louco desafia-o a deitar o último muro ao chão, e reaparecer como que por magia, no início do percurso evolutivo.
Será uma árdua tarefa que seguramente lhe dará muito prazer e lhe trará muitas alegrias.
Os amores serão renovados, e tudo o que ainda o prender a um passado gasto e decrépito será filtrado.
A sua inteligência e espírito criativo serão a chave do seu sucesso profissional.
Na saúde poderão ocorrer alguns estados de ansiedade, sobretudo no primeiro trimestre do ano, nada de preocupante, são ainda alguns nós do passado a tentarem resistir à mudança.
Posto isto, sendo que o que este ano que já vai a meio me reserva é esta bela trampa... acho que vou ali beber uns copos valentes e já venho...
Directa ao ponto!
Recheada
segunda-feira, julho 26, 2010
domingo, julho 25, 2010
sexta-feira, julho 23, 2010
Re... arquitectando
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá (...)"
Chico Buarque
Como é que se começa de novo? Como é que, depois da "roda viva" ter passado por cima dos nossos planos, ter deitado por terra grande parte deles, seguimos em frente? De onde partimos?
Vendo a vida como uma construção, arquitectada em papel com régua e esquadro, com medidas e anotação da escolha de materiais, assim vamos nós decidindo onde ficam as janelas, quantas paredes terá e assentando os tijolos de acordo com o nosso desenho. Essa planta, que julgo que criamos sem sequer dar conta, acompanha-nos desde que nascemos e vai evoluindo connosco, crescendo, sendo melhorada para se adaptar melhor às ventanias que a vida nos vai trazendo e ao nosso consequente movimento interno de mudança. Quando nos sentimos perdidos, paramos, voltamos à base, consultamos o plano, relembramos aos nossos objectivos e continuamos a caminhar.
Mas... e quando deixamos de ter planta à qual recorrer? Quando a reviravolta é tão grande que arrasa estrutura, divisões, medidas, metas? E quando temos que desenhar tudo de novo partindo do zero? Não... na verdade será do "menos um"... porque a bagagem que carregamos às costas, que trazemos de trás, a bagagem de quem é arrasada, sem apelo nem agravo, é dolorosa, por vezes até cruel, e tem o condão de matar os sonhos e sentimentos de criança onde assentava a primeira construção. Portanto, sim, partimos do "menos um", partimos de um local interno sem luz, subterrâneo, que nos enegrece a esperança e a expectativa, que nos faz ter medo, que não nos ilumina o suficiente para que possamos pôr a vida em perspectiva.
Por onde começamos, sem planta e sem luz para a desenhar?
quinta-feira, julho 22, 2010
Lugares
Mafalda Veiga
Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar
Pensa em mim, protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar
Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só
Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar
quarta-feira, julho 21, 2010
segunda-feira, julho 19, 2010
Em contacto
Com o tempo, os momentos entregues a ti própria começaram a encher-se também de outras coisas. No início, muito a medo, pequeninas e entrando com pezinhos de lã, e com elas acabaram por vir o vento, os risos, o sol, e a angústia começou a perder terreno, a resignar-se a um canto, a não ocupar o espaço todo. E as tuas preces foram sendo substituídas por alguma esperança que trazem os dias seguintes. O equilíbrio ainda é difícil e nem todos os dias são bons dias para se estar em cima do muro mas começa-te a ser mais fácil controlar os músculos e impregná-los de força.
Só que, e há sempre um "só que", a consciência que tens de ti própria não te deixa levar ao engano e tu sabes o que és, quem és, e sabes-te apontar bem o dedo. A palavra "inconformada" vem-te à cabeça vezes demais e lembras-te bem do dia em que a utilizaram para te descrever e em que, pela primeira vez, soubeste que mais alguém conseguia ver o seu lado negro. E tu navegas por ele, pelos seus fluxos de energia, sabendo bem como ele te consegue mover, dominar. A luta, até por causa perdidas, é inerente a ti, os ventos e tempestades não te metem medo mas sabes que és como o tal pássaro que se atira às grades, o tal pássaro que não aceita a gaiola imposta, por mais que se fira. E feres-te, muito. Tiras de ti tudo o que podes, empregas todas as tuas forças mas acabas por cair, cansada, não conseguindo mais erguer-te. Até recuperar energias, tentar outra vez e iniciar novo ciclo. Autodestrutivo. Em paralelo, ergues a barreira de aço à tua volta, barreira essa feita de micro furos que levam a que as energias circulem mas só num sentido. A sua forma afunilada deixa sair o desespero, o pulso, a gana, mas não permite que entre a realidade. Os factos que tens que assimilar, fazer com que se fundam com o teu ser, circulam à tua volta em redemoínhos mas tu estás protegida por trás da barreira e não os deixas entrar. Desta forma, não deixas que eles se ajustem, se moldem a ti, não os integras na tua vida, não os deixas correr na tua corrente sanguínea, não os assumes como teus, não os aceitas. E assim, a realidade apresenta-se-te sempre como irreal. E assim, olhas para ela como se fosse um filme, um sonho do qual um dia vais acordar.
E olhas para o calendário e vês... os mesmos dias... Nestes dias, voltaste, habitas aquelas quatro paredes e os dias são os mesmos e por um pouco nem reparavas na coincidência. Ou não. Nestes dias, voltas, como voltaste nessa altura, nesses dias. E eles confirmam-te o que queres fingir que não existe.
Mas tudo passa, dizem-te, e tu esperas que passe. Tu esperas que haja realmente um outro lado dos pesadelos. Gritas para dentro, questionas, desiludes-te, choras, sentes raiva de ti, sentes tanto e tanta coisa que parece que vais morrer, mas esperas. Esperas pelo dia em que as palavras, os olhares, a realidade não te toquem mais desta forma desumana. Esperas pelo dia em que deites a cabeça na almofada e as palavras, os olhares, a realidade te façam sorrir.
"Small" brother is watching you
domingo, julho 18, 2010
sábado, julho 17, 2010
sexta-feira, julho 16, 2010
Pelando
quinta-feira, julho 15, 2010
Olá
Diagonal
quarta-feira, julho 14, 2010
Considerandos
Acordei, não fresca, com vontade de dormir mais ainda. Controlei-me porque ainda tinha a noite pela frente e nada como o conforto dos lençóis fresquinhos e de mais mimo... Mas os sonhos, os sonhos... ontem andei com eles agarrados, como almas penadas, porque falhei o ritual de separação de mundos. E assim, quando voltei a deitar a cabeça na almofada, foi com rapidez que me levaram de volta. Os mesmos, sempre os mesmos. Enfim, nem a sonhar consigo ser original. Sonhos do antes e do depois, sonhos do que não existe, sonhos que talvez tenham a pretensão de representar o que a realidade não me entrega. Talvez tenham secretamente essa função... se não vivo, sonho para ver como seria, para viver o que me falta e sentir o que essa realidade sonhada tem para me dizer.
Mas, depois, de volta à vida real, áquela que nasce todos os dias, que todos os dias se apresenta ao serviço. E caio em mim e pergunto: "onde está aquela pessoa atenta, curiosa pelas coisas do mundo, interessada, com vivacidade e energia, com brilho nos olhos e gosto e vontade de fazer milhentas coisas, tantas coisas que uma vida só não deve chegar? Onde está?" Está aqui, sim, está aqui mas tem medo. Não medo do novo ou do desconhecido mas medo de que, o que venha, apague, substitua, ocupe o lugar do "eu" antigo, corte definitivamente os fios que me ligam a mim, a quem eu fui. Não quero, não quero perder mais nada. Agarro-me com todas as forças para não perder mais nada. "Perder-se-á o que tiver que ser, o que não tiver que ser, fica", dirão alguns. Mas uma controladora como eu não lida bem com "o que tiver que ser", não se deixa quieta a ver o destino agir como lhe dá na gana, a decidir e organizar, a cortar laços e a entrelaçar outros sem ter uma palavra a dizer. Não! E assim estou, agarrada às pedras, a lutar para não me deixar levar pela corrente porque não quero perder mais nada. Alguns, muitos, disseram e dirão mais milhentas vezes, "Vive! Vive!!! Tudo coexistirá dentro de ti, se assim tiver que ser." Mais uma vez, "se assim tiver que ser", mais uma vez, não gosto.
Observo-me ao espelho e, pela primeira vez em toda a minha vida, aprecio o que vejo. Observo os meus contornos, a minha pele, a minha forma e não vejo mais a adolescente complexada que evitava a todo o custo mostrar-se. Não vejo mais aquele corpo com o qual nunca me senti confortável por achar grotesco com todos os seus defeitos, para mim, inultrapassáveis. Estão lá à mesma, é certo, mas são mais humanos aos meus olhos. Agora consigo ver beleza para além deles. Consigo encontrar brilho na minha pele clara, para mim sempre demasiado clara, nos sinais e marcas do tempo e não só, para mim sempre demais, no volume onde ele está, que para mim não devia existir.
Cresci, eu acho, cresci mais nestes últimos meses no que na minha vida toda. Sei que sou hoje mais equilibrada, madura, sensata, tolerante, humana do que alguma vez fui. Sim, humana mas, acima de tudo, aceitando a minha humanidade, as minhas falhas e erros, as minhas culpas e perdões, a minha fealdade mas também a minha beleza, como pessoa, como amiga, como filha, como mulher. Só que, em paralelo, também houve um quinhão amargo, que nunca mereceu muito a minha confiança antes, e que hoje me vem dar razão. O quinhão negro de mim que parece ter-se refinado com requintes; o quinhão da frieza e dos muros e guardas e defesas; o quinhão da desconfiança, da ausência de fé no mundo, nos outros, em mim; o quinhão triste, triste e solitário, triste e eremita, triste e duro que não se deixa ultrapassar determinado limite, que não se deixa tocar e que não toca em ninguém; o quinhão que não vive. Olho-me ao espelho e vejo beleza e fealdade, brilho e escuridão.
Mais uma vez, o tremor. Todos os terminais nervosos a serem varridos por um onda quente que dói, que queima. "Todos temos um intervalo de tolerância. O seu foi largamente ultrapassado.", ouvi eu no outro dia. E por isso, sabendo o que é transbordar, o corpo reage impulsivamente, tenta prever e proteger-se, emana calor, activa todos os sentidos e prepara-se assim para o embate. Calma, tem calma, um dia vai passar.
terça-feira, julho 13, 2010
Limbo
segunda-feira, julho 12, 2010
sexta-feira, julho 09, 2010
Comemorações henriquinas
É ou não é muito mais giro assim?
quinta-feira, julho 08, 2010
The day after
Bom, mas enfim, isto tudo para dizer que assim comecei o dia, ainda para mais com a sensação que é sexta e não é, e também com a mente cheia, de sonhos agitados e calor e suor e gatos dos infernos a quererem brincar às 6 da manhã! Portanto... bem dispostinha que é uma maravilha... Felizmente, consegui despachar-me a horas mais ao menos decentes, consegui tomar o meu café sossegada, consegui não apanhar trânsito, consegui chegar aqui já senhora de uma certa leveza. E depois de uma noite de conversa intensa, em que muito foi dito e ouvido (e, espanto!, apesar de tudo, os meus amigos continuam a achar-me uma pessoa normal...!!), preciso mesmo desta paz para processar... Sim, F., lentinha.... muito lentinha ;).
quarta-feira, julho 07, 2010
Sob o mesmo signo
....
Nããã......! Nem vou sequer começar a tentar perceber a relação entre nós os quatro...!
Frase do dia
"O tempo está para o amor como o vento para os incêndios: apaga os fracos e ateia os fortes."
Oi?
Então vejamos:
Depois, o altifalante interno aumentou, não sei bem porquê. Ouço-me de maneira diferente, mais próxima. Parece que estou a sussurar ao ouvido de mim própria, pareço aquela vozinha interna que todos temos de vez em quando mas sendo que esta permanece! É um barulhão! Um simples mascar de plastilha elástica soa a uma trituradora dentro do cérebro, tenho mais consciência da minha própria respiração porque a ouço fora, como sempre, e dentro como se tivesse um taradão a ofegar no meu pescoço; um soluço parece um sino de igreja no meio dos olhos a dar a uma da tarde! Incómodo, muito incómodo...
Mas mais preocupante ainda, não percebo metade do que me dizem. E, por acaso até é giro ser mesmo... metade. Desenvolvi, por isso, uma teoria que passo a partilhar: as palavras, quando saiem da boca de quem fala connosco, vêm ali pelo ar e tal. Quando chegam perto do nosso nariz, dividem-se, vão umas letras para a direita e as restantes para a esquerda. E só quando entram no nosso cérebro pelos ouvidos é que se voltam a juntar e, nessa altura então, conseguimos processar a palavra ou frase. Ora, no caso dos incapacitados auditivos (pelo menos, os temporários, acho que os outros conseguem, com treino, fazer fluir a coisa toda para o mesmo lado) o que é que acontece? As letras que vão direitinhas ao ouvido tapado ficam à porta. As outras seguem o seu caminho mas, o encontro não se dando, a palavra fica coxa... aliás, fica sem ser palavra...
Só que não quero dar parte de fraca e dizer que estou mouca! As probabilidades de vir a ser gozada como se não houvesse amanhã são gigantescas! Ainda mais aqui, onde há, efectivamente, uma surda de um ouvido... nããã... prefiro fingir que nada se passa mesmo já conseguindo antever certas e determinadas situações onde farei figura de perfeita atrasada mental ou então de alcoólica!
No restaurante:
No trânsito:
No trabalho:
Pois... e isto que não passa... alguém me arranja uma picareta??
(1) As moelas hoje estão que é uma maravilha!
As vinte e quatro horas de "Le T."
O dia propriamente dito era, simultaneamente, dia de D. P.. A minha primeira reacção foi pensar em trocar para poder dormir mais um bocado mas acolhi a sugestão de aproveitar o facto de ter que "madrugar" e gozar mais o dia. E assim, surge a ideia do pequeno almoço numa esplanada, saboreando a manhã de Verão. Depois, rumo à "minha minha" prenda. Uma hora inteira nas mãos de outros, a cuidar do corpo, da pele, da mente ("Ui!! Tinhas carradas de porcaria para tirar de cima, não???"). A avenida recebe-me, quente, muito quente!, enquanto a desço mais leve e me enfio em tudo quanto é loja e lojinha, sem compromissos, sem nada de especial em mente, apreciando simplesmente esse tempo meu. Segue-se o almoço "no meio de fábulas", no patamar que interrompe a escadaria calcetada, debaixo daquela árvore que se estende de um lado ao outro da rua formando um tecto verde e fresco. Aqui e ali, mensagens, telefonemas, vozes e palavras amigas do peito a debruar de cores vivas as horas que vão passando. Mais comprinhas, mais passeios e rumo à praia porque num dia destes até é pecado não ir dar um mergulho com o mar aqui tão perto. E ele recebe-me de braços abertos... O jantar à beira-rio (como tínhamos combinado, lembras-te?), mais uma vez a natureza a brindar-me com o seu calor, e o regresso a casa exactamente vinte e quatro horas depois.
segunda-feira, julho 05, 2010
Viagens
sexta-feira, julho 02, 2010
M... também de mimo
(ó para mim de sorriso parvo e derretido....)
Em contagem decrescente...
quinta-feira, julho 01, 2010
Porque gosto de histórias, porque gosto de vacas
Já em criança a vaca Glória era mais gorda do que as outras vacas. E isto foi-se acentuando à medida que crescia. Os lábios eram carnudos, o nariz largo, a cabeça tão grande como uma abóbora (por acaso era até maior) e, ainda por cima, tinha umas pernas fortes, uma barriga gorda, pêlos grossos e duros e os pés pesados.
Como não havia roupas à venda para o seu tamanho, tinha de ser ela mesma a fazê-las à mão. Fazia-as sem gosto nem grande jeito, e por isso, dentro daqueles vestidos, parecia ainda mais possante do que realmente era.
Tinha um andar atabalhoado e, quando falava, a voz era semelhante à de alguém a gritar para dentro de uma cisterna.
Glória não era modesta nem pensava tornar-se uma boa vaca leiteira como todas as vacas da sua idade. Não! Era ambiciosa e ansiava por qualquer coisa de grandioso!
Um engraçadinho qualquer, creio que a raposa, dissera-lhe que com uma voz tão bonita, devia estudar canto. Como tinha um pai rico que pagava tudo, teve aulas de música e, em seguida, deu ainda um concerto. Todas as vacas vieram ouvir Glória cantar. Começou com A violeta na orla do caminho e esta foi também a última canção que cantou. É que, se quando falava a voz parecia que saía de uma cisterna, ao cantar, soava como dois elefantes a trombetear num regador em simultâneo com uma serra a cortar metal. A assistência tapava os ouvidos, assobiava, gritava e batia com os pés para não ter de ouvir aquela voz horrível, ou então corria em debandada pelo prado onde o concerto estava a decorrer. Glória parou e começou a chorar. As vacas pensaram: “É agora que ela se vai tornar uma boa vaca-leiteira!”
Mas não! Teve aulas de dança e ainda quis tentar a sorte como bailarina! Quando se apresentou pela primeira vez, vieram ainda mais vacas vê-la dançar do que quando cantou. Glória apareceu no palco com uma saia tão grande que dava à vontade para fazer sete toalhas de mesa. Logo ao primeiro passo, tropeçou e caiu. As vacas na assistência riram-se, mas Glória não se deixou intimidar e deu um salto. Com o peso, as tábuas do palco partiram e ela caiu, ficando presa até à altura dos braços. Os espectadores riram-se, mas cinco fortes bois subiram ao palco e ajudaram-na a sair do buraco, onde ainda continuava a dançar. Novamente em cima do palco, Glória começou a dançar perigosamente perto da boca de cena. Desequilibrou-se e caiu, aterrando exactamente em cima dos músicos que estavam a tocar no fosso da orquestra. Quando voltou a erguer-se, com dificuldade, o contra-baixo estava partido, a trompete completamente espalmada, o tambor rebentado, o acordeão rasgado em dois e o maestro, com o susto, tinha engolido a batuta. Bem se pode imaginar as gargalhadas da assistência quando a bailarina desapareceu por detrás das cortinas.
Em consequência disto, Glória, muito envergonhada, emigrou para o país dos hipopótamos. Aí dançou para os pesados e grosseiros animais, e cantou ainda algumas das suas canções.
No dia seguinte lia-se no jornal:
A artista Glória, uma figurinha delicada e frágil, deu ontem um concerto onde também dançou. Nunca tinha sido possível no nosso país admirar uma voz tão clara e cristalina; nunca se tinha ouvido um canto tão belo. Dançou, melhor dizendo, flutuou com tal graciosidade que todas as nossas meninas-hipopótamos ficaram encantadas pela sua leveza. Esperemos que a artista Glória dance e cante mais vezes aqui entre nós, no país dos hipopótamos."
Projecto "Clube de Contadores de Histórias"
ac@contadoresdehistorias.com