Repito tudo na minha cabeça. Tudo. Com pormenores, para não falhar nada. Repito uma e outra e outra vez. E de cada vez sinto como se fosse a primeira, a sensação de fraqueza, as mãos a tremer, o estômago a arder como se cada palavra fosse um murro, o coração a mirrar, a comprimir-se, a encolher-se, a fechar os olhos com força enquanto vira a cara na esperança de se conseguir proteger, mesmo estando já no chão. Repito uma e outra e outra vez, cada vez que me sinto fugir para um outro mundo, um mundo irreal. Repito para me trazer à terra e embater de frente, uma e outra e outra vez. Repito com o propósito de que cada encontro, com a violência que traz dentro dele, choque de tal forma que vá desmanchando, partindo aos bocados, estafando, desfazendo. Repito para as banalizar, reduzir a pó, para que não sobre mais nada, para que nunca mais me consigam tocar.
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