E vi o 9 passar a 10 enquanto o olhava fixamente para ter a certeza que apreendia tudo desse imenso segundo. O segundo do fim, o segundo do início. Depois aproximei-me o mais que pude do céu, olhei para cima e ali me deixei absorvida pelas cores, estrelas, brilhos, formas. O barulho ensurdecedor ecoava longe para mim e na minha mente uma música, não sei qual, a acompanhar as abóbodas gigantes que se formavam sobre a minha cabeça, capazes de me engolir. Por momentos, desejei que o fizessem e me levassem com elas para esse mundo de luz. Senti-me parte de tudo, capaz de voar no meio das cores, senti que pertencia áqueles céus. E a cada novo brilho, um flashback, a revisitação de mil lugares, palavras, expressões, olhares, momentos, emoções, tudo entrelaçado em minutos que pareceram uma eternidade. E a música que só eu ouvia. E a ilusão de que as formas diversas, que rasgavam o céu, falavam comigo, só comigo. E se desfaziam depois em lágrimas azuis, brancas, amarelas, verdes, vermelhas, que escorriam na minha direcção perdendo a côr ao juntar-se às minhas.
A dada altura, vinda sei lá de onde, uma taça de champagne a acordar-me para a constatação de que as minhas mãos estavam geladas, que as minhas pernas tremiam. Mas deixei-me estar até ao fim.
Não brindei, não comi passas, não pedi desejos, não tomei resoluções. Sabia-me rodeada de gente mas não sentia ninguém. E de repente lembrei-me, quando o 9 passou a 10, mesmo antes de me evadir desta terra, de um sussurro quente ao ouvido: que sejas feliz.
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