Um misto de alegria e tristeza. Alegria por eles, que me são queridos, que fazem parte do meu ser, tristeza por me sentir do lado de fora do vidro. Estranheza, sim, e desconforto. Mas é sempre assim das primeiras vezes, não é? As primeiras vezes são sempre estranhas, principalmente, as primeiras vezes do que não desejamos, do que é imposto (e, comigo, as imposições são sempre tão indigestas...). As primeiras vezes são mal encaradas, amargas, raspam ao passar por nós, como giz no quadro preto. São como uma peça de puzzle mal recortada, ainda com uma rigidez novinha em folha, sem uso, que não encaixa exactamente mas que tem que encaixar porque olhamos em volta, para a caixa das peças, e vemos que não há outra. Há que limar o cartão, moldá-la e fazê-la caber e, mesmo que a imagem que forma nos pareça afinal desformatada, temos que esperar que depois, no seu conjunto, tudo faça sentido. Um misto de felicidade e aperto no estômago, um misto de ganhos e perdas. Depois, bom, depois certamente tudo fica mais fácil. Porque as vezes seguintes seguem o seu caminho e deixam cair a capa da estranheza e passam a ser familiares, corriqueiras, nossas. Mesmo que não queiramos, passam a ser nossas. E nessa altura, olhamos para elas de frente, como velhas desconhecidas, como dizia a canção.
Cair, quebrar e abrir, sim, abrir para o que vem, abrir para deitar fora o que já não presta. O tal caminho pela floresta escura, onde temos medo de entrar mas de onde, tendo-se iniciado, já não se pode voltar. Acreditar que a escuridão traz luz, que temos que enfrentar as árvores sombrias para depois poder receber o que se esconde por trás delas. Que elas afinal não são assim tão escuras e tão grandes, que elas afinal ladeiam o caminho mas não o tapam e que nós, ao passar por elas, não vamos ser magoados mais do que é preciso.
E de novo os sonhos. Por mais que evite, enquanto a luz do sol me ilumina e me pinta de tonalidades novas, a noite traz de volta o resto, o que está ainda guardado, lembrando-me sempre que não adianta olhar para o outro lado e fingir, não adianta. O que ainda cá mora só se vai embora quando eu der de caras com ele, enfrentar, moer, reduzir a pó. Depois sim, sopra-se o que resta, limpa-se a casa.
Resistência, esbracejar contra a corrente. Ou deixar que a água nos leve. Nunca gostei que me levassem, sempre fiz questão de ser eu a indicar o caminho. Talvez esteja na altura de mudar e deixar-me ir...
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