segunda-feira, junho 21, 2010

Solstício

O mundo gira e traz mais uma estação, a do sol e calor, a do mar e dos cheiros quentes, a do alcatrão a derreter para quem fica nas cidades, a dos lugares de estacionamento a oferecer-se de bandeja, a dos gelados e petiscos ao ar livre. E hoje também, lá mais para sul, a "barrigada" de sete. Dizem que é número mágico, talvez até tenha sido o deus Sol a dar uma mãozinha... E as coincidências que dizem que não existem. Gosto deste "dizem". Quem diz? "Eles". Eles quem? Não interessa. "Eles", essa entidade sem rosto, com as costas larguíssimas... mas enfim, dizem então que não há coincidências, que nada acontece por acaso, que tudo tem uma razão de ser. Pergunto-me então qual é a razão de dois escritores portugueses em particular terem ido para o outro mundo quase de seguida. E pergunto porque são esses dois, justamente esses dois. Talvez só eu veja a ironia, talvez, a curiosidade do facto, talvez só eu. Mas tenho que me dar por contente mesmo assim. Nos dias que correm, a minha mente estar aguçada o suficiente para me aperceber, já é muito bom, mesmo que esteja sozinha nas suas deambulações. Mas falta-me agora a outra parte: porquê? Se não há coincidências, se tudo tem uma razão de ser, então qual é ela? Gosto de pensar assim, que nada acontece por acaso porque desta forma sentimos como mais legítimo achar que não andamos aqui por ver andar os outros, que há sentido no mundo e nas ocorrências e eu gosto de coisas com sentido. Mas, lá está, falta-me que "eles" me digam afinal o que está por trás porque eu, comum e banal mortal, não consigo alcançar...

Hoje dá-se a maior diferença na duração do dia e da noite e esta constatação remete-me para tempos idos e rituais pagãos e mulheres de roupa leve e branca a fazer esvoaçar gestos carregados de simbolismo e de comunhão com os astros e com a natureza. Gosto. Talvez seja a minha porção celta que, nestes dias, acorda e me faz viajar. Sinto-a latejar. Acho que me apetece criar um Stonehenge‎ só meu e dá-lo como desculpa para sair daqui e ir adorar o Sol. E, já agora, deixar que ele me adore também...

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